domingo, 16 de novembro de 2008

Entrevista à Professora Isabel Magalhães

Como sabemos, a alimentação não depende apenas de factores biológicos, mas também de psicológicos. Como tal, de modo a compreender melhor esta temática, o nosso grupo realizou um entrevista à Professora Isabel Magalhães, que possui um Mestrado em Psicologia. Em seguida, encontram-se algumas das perguntas mais importantes colocadas durante o encontro.

De que modo os factores psicológicos podem influenciar a obesidade?
Os factores psicológicos contribuem indirectamente para a obesidade. Como sabem, o corpo e a mente funcionam como um todo. E se o corpo não está bem, a mente também se vai ressentir. Isto funciona como um ciclo vicioso: a pessoa come de mais, engorda, não gosta do que vê ao espelho e acaba por compensar com mais comida. Neste sentido, o ganho de peso surge essencialmente em épocas de grande stress e ansiedade.

Qual deve ser o estado de espírito da pessoa para poder emagrecer?
Primeiro de tudo, o indivíduo tem de ter consciência que o processo de emagrecimento é extremamente moroso e difícil. Porque se a pessoa tiver a intenção de emagrecer rapidamente, recorrendo às dietas constantemente impingidas pelos mass-media, ela acabará por ter uma grande desilusão, a qual irá compensar ainda com mais comida. Assim, essa pessoa deve consultar um nutricionista e adoptar uma dieta saudável. Por outro lado, o indivíduo deve praticar uma actividade física intensa, não só para queimar o excesso calórico, mas também para atenuar a ansiedade. Isto porque, durante a actividade física, o corpo liberta emorfinas, substâncias responsáveis pela regulação do stress.

Como caracteriza a relação dos jovens com a alimentação?
A relação dos adolescentes com a comida é muito complexa. Um jovem está numa fase de construção da sua identidade, baseando-se muito no grupo em que está inserido. Ora, se o adolescente for obeso, esse grupo tem tendência a marginalizá-lo, principalmente em relação às raparigas. Como consequência, os jovens marginalizados têm uma maior dificuldade em encontrar no outro uma relação de amizade e afectividade, o que obviamente afecta a auto-estima da pessoa em questão. Também não podemos esquecer que actualmente nós vivemos na sociedade dos estereótipos, facto que é muito influenciado pela televisão e pela moda. Como tal, ao confortarem-se com a imagem que é constantemente passada pela comunicação social, que favorece as pessoas magras e elegantes, os jovens obesos, principalmente as mulheres, passam por momentos de grande angústia e sofrimento.

O grupo influencia a alimentação dos adolescentes?
Muito. Na verdade, na fase da adolescência, os pais passam para segundo plano e são os amigos que têm o papel principal na estruturação alimentar dos jovens. Assim, se o grupo tiver uma série de hábitos, então o jovem vai adoptá-los numa tentativa de integração social.

Considera então que existem poucos adolescentes que têm força para contrariar o grupo?
Sem dúvida. Só aqueles que têm um tipo de personalidade de liderança, é que conseguem escapar à pressão do grupo. Aliás, são essas pessoas que definem os hábitos e as tendências adoptados pelos outros, sendo, portanto, muito influenciadores.

Porque é que os pais facilitam o acesso das crianças a alimentos pouco saudáveis?
Não nos podemos esquecer que nós vivemos na chamada “ditadura da criança”. Ou seja, quando a família vai às compras, são as crianças que escolhem aquilo que querem levar, principalmente na parte da alimentação. E obviamente que elas optam pelos produtos publicitados na televisão, que geralmente são muito calóricos e gordurosos. Na verdade, as crianças interiorizam as marcas. E claro, se os pais não fizerem o que elas querem, fazem “birra”.

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